A Casa dos Mil Espelhos
Segundo o folclore japonês, tempos atrás, numa
terra muito distante, havia um pequeno lugarejo, onde todos temiam a presença
de uma casa considerada mal assombrada, a qual foi intitulada como A Casa dos
Mil Espelhos.
Nesse lugarejo viviam dois cãezinhos, sendo que
um era alegre, sorridente, simpático e bastante equilibrado, independentemente
da situação. O outro, porém, era mal humorado, mal educado, pessimista e capaz
de azedar qualquer ambiente ou coração feliz.
Um dia, passando pela rua da tão temida casa, o
cãozinho simpático decidiu visitá-la, sem temer mal algum. Ao entrar,
saltitando pela porta com seu olhar feliz e abanando o rabinho, teve uma grande
surpresa, pois encontrou mil outros cãezinhos igualmente felizes, que estavam lá. Como
era de costume, mediante suas atitudes constantes, abriu um enorme sorriso e
recebeu mil outros enormes sorrisos em retribuição.
Quando saiu da casa, encontrou com o cãozinho azedo que estava passando por
ali, que imediatamente lhe perguntou:
_ Você está maluco em entrar aí? Não sabe que essa é uma casa
mal assombrada?
E o cãozinho simpático respondeu:
_ Não! Esta casa não é assim. Lá dentro encontrei centenas de
cãezinhos felizes e simpáticos. É um lugar maravilhoso e, sempre que eu puder,
voltarei aqui. E partiu... saltitando como sempre.
O cãozinho azedo logo pensou: Ora! Se esse cara de mala velha,
que deve ter medo de tudo e de todos não teve medo de entrar aí, eu que sou
sério e bravo é que não vou fraquejar.
Escalou lentamente as escadas que davam acesso à enorme porta e,
ao entrar, encontrou mil olhares hostis surgirem através dos espelhos. Eram
olhares de cães mal humorados, azedos, antipáticos e de destruição da mais
singela paz – capazes de derrotar qualquer sorriso, qualquer sonho ou qualquer
alegria, por mais simples que fosse.
Imediatamente, carrancudo por excelência, rosnou, mostrando-lhes
os dentes. A resposta foi imediata, vendo-se diante de mil rosnados com dentes
afiados. Assustou-se profundamente com aquela imagem e saiu correndo, pois nem
ele suportaria tais expressões. Durante a fuga, pensava: Que lugar horrível! Nunca mais
volto aqui!
Às vezes, custamos a compreender certas
circunstâncias, por mais simples que sejam. É fato de que vemos as coisas ao
nosso redor como um reflexo do nosso estado interior. Portanto, crer que as
coisas em nossa vida vão bem ou mal, depende principalmente de nós. Em
nossa vida, podemos agir tanto como o primeiro cãozinho, quanto o segundo, mas
é a nossa liberdade de ação e atitude que vai refletir ao mundo a verdade sobre
a nossa alma.
O mundo é como A Casa dos Mil Espelhos, enquanto que o nosso olhar é a janela do nosso coração. Mas onde encontrar
os espelhos? Os espelhos estão expressos no que vemos brotar nos rostos das
pessoas que encontramos em nosso caminho, conforme aquilo que transmitimos aos
seus corações. Assim, todos os rostos do mundo são como espelhos... prontos para
refletir o que temos a oferecer.
Daí é preciso refletir sobre a nossa atuação diante de nós
mesmos. Que tipo de reflexo você tem percebido nos rostos das pessoas que você
tem encontrado pela vida? Tem-se feito de raios de sol, água e adubo para
contribuir com a colheita ou prefere fazer o papel daquele famoso tomatinho
podre (o azedo)?
Sempre é tempo de mudanças! Assim diz o sábio: A
bem-aventurança está dentro de você, mas você está imaginando que ela está
fora. O que está fora é apenas o reflexo, a reação e a ressonância do que está
dentro de você.
O bom mesmo é ser alegre e procurar não azedar ninguém.
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